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Jô Soares tem todo o direito de não querer falar com o “Pânico”

Mauricio Stycer

08/11/2011 01h07

Como fez com Zeca Camargo, o "Pânico" agora se dedica a uma campanha contra Jô Soares, "acusado" de um crime grave: não quis dar entrevista ao humorista Márvio Lúcio, o Carioca, então caracterizado como "Jô Suado", na noite do lançamento de seu mais recente romance, "As Esganadas" (na imagem acima, Joana Fernandes, diretora de marketing da Companhia das Letras, entre Jô e Jô).

A campanha do "Pânico" teve início dois domingos atrás, quando o programa exibiu o esforço, em vão, de Jô Suado falar com Jô. "Querido, eu não posso falar com você. Você sabe disso", disse o apresentador, antes de acertar um direto no queixo de Carioca: "A grande diferença entre eu e o Jô Suado é que eu não fico enchendo o saco do Jô Soares".

Ao final da reportagem, Carioca falou da sua decepção com o ocorrido e anunciou a intenção de não mais fazer o quadro, no qual imita o apresentador.

Neste domingo, o "Pânico" repetiu as imagens da semana anterior e acrescentou algumas pitadas de crítica a Jô Soares, mostrando antigas entrevistas de Renato Aragão e Chico Anysio ao programa.

Imediatamente, como sempre acontece, foi deflagrada uma campanha nas redes sociais, em especial no Twitter, contra Jô Soares e em defesa da imitação que Carioca faz dele.

Jô tratou do problema na noite de segunda-feira, durante entrevista ao programa "Roda Viva", na TV Cultura. "Adoro o Jô Suado", disse. Logo, porém, observou: seria "deselegante" com a Globo, que estava fazendo reportagem sobre o lançamento do seu livro, dar entrevista ao "Pânico" naquela noite. O apresentador ainda acrescentou: "Tenho o direito de não dar entrevista".

Não vou entrar no mérito do primeiro argumento. Se seria "deselegante", ou não, não me importa. Mas concordo inteiramente com o segundo ponto. Gosto do "Pânico", mas considero autoritário achar que alguém tem obrigação de dar entrevista ou ser gentil com o programa.

Quem acompanha este blog sabe que tenho feito críticas duras a Jô Soares. Isso não me impede, muito pelo contrário, me deixa bem à vontade para sublinhar minha concordância com ele.

E não apenas no seu direito de não falar com o "Pânico", mas também na defesa irrestrita que fez, no "Roda Viva", do humor sem limites. Pressionado por vários entrevistadores a criticar Rafinha Bastos e outros humoristas da nova geração, Jô foi firme ao dizer que não se deve estabelecer qualquer tipo de restrição a quem vive de fazer graça. Ponto para ele.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.